A história dos Franciscanos no Vale

São Francisco de Assis reformou a sociedade do seu tempo, revivendo o espírito do Evangelho através das três ordens religiosas por ele fundadas:

  • a dos frades menores (primeira ordem)
  • a das senhoras pobres (Clarissas – segunda ordem) 
  • a dos irmãos da penitência (terceira ordem)

São Francisco de Assis é conhecido como sendo o maior reformador depois de Jesus Cristo. Os frades Capuchinhos são da primeira ordem. Estão no Brasil desde 1612 e, os primeiros a chegarem pertenciam a Província de Paris, quando acompanharam a expedição de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére com o objetivo de criar missões.

Constatada a inutilidade dos Postos Militares na região das Matas do Mucuri e a permanência dos meios violentos entre os indígenas e os moradores, o governo resolveu providenciar a catequese religiosa dos índios, formando aldeamentos, como o único meio de acabar com o lastimável estado de coisas e assegurar a tranquilidade aos habitantes da região. 

A 6 de fevereiro de 1872, Frei Serafim de Gorízia (43 anos) e Frei Ângelo de Sassoferrato (27 anos) recebem em Roma, das mãos do superior geral as “letras obedienciais” que os nomeavam missionários apostólicos para as missões do Brasil. Partiram de Gênova para o Brasil em 10 de março no vapor “Poitou”, de Companhia Francesa e chegaram ao Rio de Janeiro dia 7 de abril de 1872.

Em Ouro Preto, capital da província de Minas Gerais, receberam do diretor geral de proteção aos índios, Sr. Brigadeiro Antônio Luís de Magalhães Mosqueira, as instruções para se estabelecerem nas matas do Mucuri em lugar apropriado para reunião das tribos selvagens, em terras férteis, que produzissem abundância de todos os tipos de cereais, grandes mananciais de água potável com quedas ou cachoeiras capazes de fazer funcionar quaisquer maquinismos. Ali deveriam formar uma aldeia, uma freguesia e até uma cidade. 

Após 20 dias de viagem a cavalo chegaram a Filadélfia do Mucuri. Foram muito bem acolhidos, mas a missão era para adentrar as matas do Vale do Mucuri, onde teriam que aldear os índios, tirando-os destas matas e das trevas para o convívio da vida civil e da Santa Igreja. Os freis orientados pelos índios Potões, no dia 19 de fevereiro de 1873, chegaram ao alto da serra que divide as águas do Itambacuri e Córrego d’Areia. 

Visualizaram o soberbo vale de uma beleza selvagem e imponente e compreenderam que este seria o lugar indicado por Deus para plantar o marco da fundação do aldeamento e a tenda do seu apostolado. Frei Serafim, extasiado, exclamou:


“Daqui não sairei mais!”. 

A estrada para tropa até Filadélfia ficou pronta no final do mês de março de 1873. No dia 13 de abril (dia da Páscoa) Frei Ângelo celebrou a primeira missa no local, em um rancho feito de 4 forquilhas e com cobertura de esteira de taquara feito pelos índios. A praça central encheu-se de gente, tanto civilizados quanto selvagens que acompanharam os Freis na inusitada celebração.

No final do ano de l876 Frei Serafim envia um relatório ao Brigadeiro Luís de Magalhães Mosqueira apresentando os resultados da obra missionária no Vale do Mucuri, assinalando o processo de desenvolvimento satisfatório da catequese no seu objetivo de salvação das almas e a civilização do gentio.

Os filhos dos selvagens já conversavam em português, liam e escreviam. Pediam, também, a construção de uma igreja para o culto da religião em um lugar apropriado, que serviria tanto aos índios quanto aos civilizados em prol do progresso material e moral do aldeamento.


E ainda, a necessidade da nomeação de uma professora para as meninas e adultas, para lhes ensinarem, além da leitura e escrita, a remendar e cozinhar. 

Chegada das Irmãs

Clarissas Franciscanas Missionárias

Em novembro de 1906, o Bispo da Diocese de Diamantina, Dom Joaquim Silvério Gomes de Souza, foi quem solicitou ao Instituto das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento em Bertinoro, Itália, a vinda de algumas Irmãs para trabalhar nas missões indígenas no Brasil.

No dia 30 de maio de 1907, partiram do porto de Gênova quatro Irmãs italianas, da Congregação das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento com destino ao Brasil. Eram elas:


Benedita do Redentor

Ana dos Inocentes

Bernardina do Santo Nome de Jesus

Francisca dos Santos Estigmas


Chegaram ao Rio de Janeiro no dia 15 de junho de 1907 e foram recebidas pelo superior do Convento dos Capuchinhos do Morro do Castelo. O objetivo das Irmãs era a criação de um colégio feminino no aldeamento de Itambacuri para a educação de crianças, órfãs indígenas dos Botocudos, filhas de brancos ou brasileiros da região. Além de ensinarem a leitura e escrita, deveriam ensinar a costurar, cozinhar e integrar as crianças e as jovens indígenas na civilização branca.

Todas elas deveriam ser iniciadas pelo Batismo na religião Católica. Depois de uma longa viagem feita por navio costeiro, por trem, e a cavalo, chegaram a Itambacuri no dia 3 de julho de 1907. Foram recebidas festivamente, com cortejo, fogos, repicar de sinos, banda de música e levadas até a casa que fora construída com o propósito de abrigar as irmãs e funcionar o futuro Colégio.

O Projeto Missionário das Irmãs Clarissas tinha como base a Pedagogia Evangélica: Conversão, Nova Maneira de ver a vida, Evangelização e Criação de um mundo de Justiça e Fraternidade. 

O Bispo Dom Joaquim se mostrou satisfeito com o trabalho das missionárias, por sua dedicação, humildade e simplicidade da espiritualidade franciscana, acolhendo com naturalidade e amor a pobreza do ambiente. Além disso, a capacidade de trabalho e de organização de irmã Bernardina, a primeira diretora do Colégio Santa Clara, chamou a atenção do Bispo. 

No ano de 1909, irmãs vindas da Itália iniciaram o trabalho no Hospital Nossa Senhora da Saúde em Diamantina. Em 1915, foi adquirida uma casa anexa ao Hospital Nossa Senhora da Saúde para um Noviciado, evitando dessa forma que as jovens vocacionadas fossem para a Itália.

Texto de Marcelo Prates - Revisão de Wallace Moraes - Edição de Luciana Thomé

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